Raoni Carneiro já sabia do caso que seu personagem teria com a poderosa personagem de Marília Pêra, a dona de revista de celebridades que move a ação da série "A vida alheia", ao ser escalado. Mas sentiu uma ponta de preocupação ao descobrir que a primeira cena gravada com a grande dama nem teria fala - só beijos e amassos.
- Foi assim: "Oi, tudo bom? Sou Raoni, vamos lá beijar?" - descreve o ator, de 28 anos: - Querendo ou não, é a Marília Pêra! Uma referência. Mas não fiquei travado.
Já Guilherme Trajano viu-se intimidado ao gravar as sequências mais íntimas com Cláudia Jimenez (a editora da revista "A vida alheia", Alberta), apesar de ser amigo da atriz. Tom, o aspirante a ator vivido por ele, se envolve com a jornalista e acaba ganhando um emprego na revista, de crítico teatral.
- Fiquei totalmente nervoso mesmo já conhecendo a Cláudia - admite Trajano, cujo personagem também se engraça para Paula (Kim Kamberlly), filha de Alberta.
A série de Miguel Falabella - exibida toda quinta, às 23h - traz Carneiro como João, repórter promovido a chefe de reportagem por ter um caso com a dona da publicação. Em um episódio recente, o ator dividiu a cama com a colega veterana. Na cena, o celular de Catarina (Marília) toca e ele levanta para pegá-lo enquanto a chefona observa seu bumbum.
- Marília me deixou à vontade e quebrou todos os paradigmas que poderia haver - completa o ator.
Ao contrário de Tom, João não se enrosca no mesmo lençol que a chefe apenas para se dar bem profissionalmente.
- Para Catarina, ele deve ser só um brinquedo. Mas João gosta dela e é um jornalista competente - observa Carneiro.
Tom está com Alberta mais pelo que ela pode lhe proporcionar.
- Ele une o útil ao agradável, quer se dar bem, mas tem a libido dele ali - defende Trajano, de 29 anos.
O universo dos personagens é rico, dizem os atores. Para Carneiro, que atuou nas novelas "A lua me disse" e "Negócio da China", ambas de Falabella, os personagens criados pelo autor/ator têm profundidade.
- Ninguém está ali à toa. Cada um tem a sua finalidade e um lado podre para mostrar - aponta Carneiro.
Pai de Luísa, de 5 meses, do relacionamento com a atriz Fernanda Rodrigues, Carneiro não joga no time dos que classificam a imprensa especializada em celebridades como vilã.
- Demorei para aceitar (o assédio da imprensa). Hoje estou casado com uma atriz. Saímos na rua e somos fotografados. Mas, por mais que as pessoas critiquem, tem um lado bom nisso. O fato de ser visto reflete no nosso trabalho. As mesmas pessoas que tiram foto na rua vão cobrir sua estreia no teatro.
Trajano concorda com o colega. Ele encontrou Carneiro para uma conversa com a equipe da Revista da TV numa livraria.
- Já vi gente ser escalada para um trabalho só porque apareceu numa revista - diz ele.
Vindo do interior de São Paulo, Carneiro deixou a casa dos pais aos 15 anos para iniciar na carreira. Durante sua busca, chegou a começar a faculdade de Letras e cursou Direito até o penúltimo ano.
- Mas ser ator é destino. A vocação é uma consequência - acredita Carneiro.
Vocalista da Banda Trupe, ele tem como meta atuar em um musical no teatro. Com cinco novelas na bagagem, Carneiro já atuou em produções da Globo (sua estreia em novelas foi em "Agora é que são elas") e SBT ("Seus olhos" e "Amigas e rivais").
Trajano também passou por outros canais. Antes de "A vida alheia", fez "Os mutantes - Caminhos do coração". Ex-papaquito do "Planeta Xuxa", estreou na TV como ator no "Sítio do Pica-pau Amarelo", da Globo.
Perto dos 30 anos, os dois hoje veem a profissão de forma menos glamourizada. Mas admitem ter vivido o deslumbramento.
- Tomei na cabeça logo na primeira novela. A pessoa acredita que é alguma coisa... Hoje em dia vejo vários moleques chegando à TV. Quantos ficam? - questiona Carneiro.
Trajano passou por uma experiência semelhante quando atuou em "Os ricos também choram", do SBT, em 2005.
- Fui para São Paulo fazer a novela e tinha bom salário, hotel e carro na porta. Não tem como não dar uma pirada. Você é chamado para festas e não gasta nem R$ 1 - lembra: - Mas gastei tudo. Seis meses após a novela não tinha dinheiro nem para a conta do celular.
Para a dupla, mais cedo ou mais tarde os pés acabam encontrando o chão.
- Depois de um tempo passa essa fase e fica só o encantamento com a profissão - diz Carneiro.
Fonte: Revista da TV
Foto: Simone Marinho
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